Wilson Simonal e Ditadura Militar

Com esmerada técnica, qualidade vocal e sucesso nas décadas de 1960 e 1970, o cantor Wilson Simonal viu sua carreira entrar em declínio após episódio no qual teve seu nome associado ao regime militar, envolvendo a tortura do seu contador financeiro Raphael Viviani. A partir daí, segundo o jornalista Nelson Motta, ele "virou um tabu, um leproso, um pária" na música brasileira.

O degredo começou em agosto de 1971, quando sua popularidade com as canções "Lobo Bobo", ''Mamãe Passou Açúcar em Mim'', "Nem Vem que não Tem", "Tributo a Martin Luther King", "Sá Marina" (regravada por Stevie Wonder como "Pretty World"), "País Tropical" (seu maior êxito comercial), só era superada (e não por muitos pontos) por Roberto Carlos. Suspeitando de que seu contador o roubava, mandou dar-lhe uma surra.

O problema é que a surra foi dada por dois agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), serviço público cuja especialidade era torturar adversários da ditadura militar -e falsos adversários também. Um inspetor, Mário Borges, disse à imprensa que Simonal era informante do Dops, e a pecha de dedo-duro nunca mais se descolou dele, jogando-o num longo ostracismo.

O cantor alegou ter recorrido ao Dops porque vinha recebendo ameaças terroristas e disse, talvez para impressionar, que tinha conhecidos na polícia política. Quando, mesmo sem provas, foi classificado como informante, ele se enrascou.

Pela surra que mandou dar, Simonal foi condenado em 1972 a cinco anos e quatro meses, que pôde cumprir em liberdade. Pela fama de dedo-duro, pagou enquanto esteve vivo - e depois também.

Acabou caindo em absoluto esquecimento a partir da década de 1980. Sua segunda mulher, Sandra Cerqueira, declarou: "Ele dizia para mim: 'Eu não existo na história da música brasileira' ".

Tornou-se deprimido e alcoólatra, vindo a morrer de cirrose hepática decorrente do alcoolismo em 25 de junho de 2000.

Em 2003, após a família pedir uma investigação sobre o caso e diante de um documento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos informando que não havia nenhuma prova de que Simonal tivesse servido à ditadura, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) o reabilitou simbolicamente.

Em 2009, foi lançado o documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, dirigido por Claudio Manoel (da troupe Casseta & Planeta), que tenta resgatar a trajetória de vida do cantor e chega a conclusões sobre o seu ostracismo, sobre o qual Claudio Manoel declarou que Simonal "pagou uma pena dura demais, desproporcional ao que ele fez, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia".

FONTE: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=360497297402470&set=a.353051334813733.1073741831.352427821542751&type=1&relevant_count=1

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