Joris Garstman e o assassinato de Jacob Rabbi (III)



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG

O inquérito sobre o assassinato de Jacob Rabbi, se por um lado traz muitos detalhes fornecidos pelos depoentes, por outro não é esclarecedor do motivo real daquela execução. Olavo de Medeiros no seu livro, No rastro dos flamengos, sintetiza com muita propriedade e comentários todos os depoimentos. Pena que entre esses depoimentos não existam o de Joris Garstman e o de Jacob (ou Jacques) de Bolan, principais acusados. Vejamos algumas passagens de alguns desses depoimentos.
Vamos começar com Roulox Baro, que segundo Morisot, foi enviado, quando criança, ao Brasil, na frota das Índias Ocidentais, que partiu da Holanda, em 1617. Substituiu Rabbi junto aos tapuias, como ele conta em seu Relação da viagem aos pais dos tapuias.Roulox Baro era um dos participantes do jantar na casa de Dirck Muller, no dia do assassinato, 4 de abril de 1646 (e não 5 como relata Nieuhof), e,por isso, foi chamado a depor.
No começo do seu depoimento disse que: pouco antes de ter vindo do Recife aqui (Rio Grande), com o Sr. Pieter Bas, esteve em casa do tenente-coronel Garstman, em Mauristsstad (Cidade Maurícia). No decurso de uma conversação que teve com o primeiro, a propósito dos Tapuios e de Jacob Rabbi, o dito Pieter Bas contou-lhe, entre outras coisas, que Jacob Rabbi, encarregado de dar algumas mercadorias, à guiza de presente, aos Tapuias, por parte da Nobre Companhia, as tinha desviado em proveito próprio. O tenente-coronel, que nesta noite estava um pouco ébrio, respondeu que o mundo nada perderia se se desembaraçassem de semelhante canalha.
Disse mais Baro que Joris Garstman perguntou a ele se queria disso incumbir-se. Baro respondeu que se o tenente-coronel lhe desse ordem formal, e devendo esta ordem emanar dos senhores do Alto Conselho Secreto, que neste caso ele não hesitaria em obedecer e executar a ordem de Garstman. Mas, este se absteve de dar esta ordem, e como Baro não ignorava que Garstman tinha ódio velho a Jacob Rabbi, o que todo o mundo sabe, e que, obedecendo ao incitamento, poria em risco a segurança pública em toda a capitania, o depoente teve escrúpulo em realizar o atentado, e igualmente se absteve, pela mesma razão, de informar a Jacob Rabbbi.
Contou Baro que ouviu os dois tiros que derrubaram Jacob Rabbi. Ele tinha saído da casa de Dirck Muller para procurar o seu cavalo. Entretanto, encontrou com Jacob Bolan acompanhado de três ou quatro soldados, dizendo para que não ficasse ninguém por lá, por ordem de Garstman, e assim foi arrastado por Bolan até a casa do tenente-coronel, sem deixar tempo de ir buscar o seu cavalo, e, por isso, chegou a pé até a casa de Garstman.
O dono da casa, Dirck Muller, contou que o tenente-coronel Garstman e vários outros amigos dele, foram vê-lo em sua casa. Quando eles já estavam ceando, chegou Jacob Rabbi, que tendo sido convidado várias vezes pelo tenente-coronel a ir ter com ele, fora à sua casa (Gartsman estava hospedado no Forte Keulen), e tendo sabido ali que este partira a cavalo para ir à casa dele, Muller, viera procurá-lo ali a fim de se informar do objeto de seu convite.O tenente-coronel lhe dera as boas vindas, e o convidara a sentar-se e a tomar parte na ceia.
Conta mais Dirck que quando soube da morte de Rabbi, saiu, acompanhado dos convivas e guiado pelo negro que o avisou, até onde estava o cadáver, deformado por vários golpes de espada no rosto, na cabeça, e no braço direito. Disse mais que uma bala penetrara–lhe do lado esquerdo do corpo e outra varara-lhe o lado direito abaixo das costelas falsas. Pela manhã foi providenciado o enterro na presença de Willem Beckx e de alguns homens e mulheres.
Esse Willem Becx, morador na Capitania do Rio Grande, declarou no seu depoimento que sendo ele, na época do que se trata, secretário do tenente-coronel Garstman, assistiu há alguns meses, na casa deste último, aos fatos seguinte: o dito tenente-coronel ali ordenara a Willem Jansen, ex-alferes das tropas desta Capitania, que cometesse um atentando contra a vida de Jacob Rabbi.
O depoente Johannes Honck, Bailio (magistrado provincial) desta Capitania do Rio Grande, que também esteve no jantar na casa de Dirck Muller, conta em seu depoimento que não soubera da presença de Jacob Rabbi, pois fora dormir por duas ou três horas, antes de voltar para casa. Ouvira os tiros, mas foi informado por Bolan que o inimigo estava ali emboscado. Em um trecho do seu depoimento relata que no dia oito de abril soubera que o tenente-coronel tinha chegado ao forte, de volta da casa de João Lostau (este tinha sido assassinado em 1645).
Quem comandava o forte Keulen, nessa época, era Johannes Blaenbeeck, capitão de uma companhia de infantaria. Ele, no seu depoimento, contou que somente soube a notícia do assassinato de Jacob Rabbi, no dia seguinte, pela boca do bailio Johannes Honck, que veio pedir-lhe o auxílio de alguns soldados, a fim de ir, à casa da viúva de Jacob Rabbi (a índia Domingas), fazer um inquérito sobre os bens do defunto. Contou mais que as arcas de Jacob Rabbi, que estavam no forte Keulen foram abertas, por ordem de Garstman, que determinou a ele fazer a partilha entre os presentes, tendo o tenente-coronel ficado com duas libras de prata.
O secretário do tenente-coronel Garstman, Abrahão de Rouff, que também esteve no jantar na casa de Dirck Muller, declarou, entre outras coisas, que encontrara Jacques (Jacob) Bolan, no dia que partira para Recife, e que tinha ouvido o mesmo vangloriar-se de haver dado em Jacob Rabbi alguns golpes de sabre em pleno rosto e mostrou ainda um anel que dizia ter tirado do dedo da vítima.
O que mais estranho nesses depoimentos e relatos, aqui expostos nesses três artigos, é que não há qualquer citação, dando conta que João Lostau de Navarro fosse o sogro de Joris Garstman, e tampouco é citado o nome do sogro de Joris Garstman que foi assassinado por Rabbi.
Copiado de: http://genealogiadorn.blogspot.com/2011/07/joris-garstman-e-o-assassinato-de-jacob_30.html

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