A CHACINA DE CURRAIS NOVOS

FONTE: http://www.culturadorn.com.br/?p=94

ADAPTADO
Luiz Gonzaga Cortez Gomes.

No dia 23 de novembro de 2011, a revolta comunista de 1935 fará 76 anos. Dos que pegaram em armas ou não, mas que participaram da insureição, só restava (em 2006) vivo o ex-gráfico Francisco Meneleu dos Santos, natural de Areia Branca/RN e residente em Fortaleza/CE. ... Meneleu veio a Natal várias Vezes e aqui recebeu homenagens dos membros do PC do B. Mas isso de lado e vamos relembrar a misteriosa, esquecida e famigerada Chacina de Currais Novos. Você, caro leitor, já ouviu falar nesse massacre? Pois saiba que tem gente viva que viu a chacina na Serra da Dorna, perto de Barra Verde e do Saco do Veado, município de Currais Novos, segundo informa Volney Liberato, pesquisador daquela cidade seridoense, onde os integralistas, agricultores e fazendeiros, comandados por sargentos da Polícia Militar, destacados em Parelhas, Carnaúba dos Dantos, Acary e outras cidades, enfrentaram e derrotaram os revoltosos de novembro de 1935, na Serra do Doutor, município de Santa Cruz. Os elementos civis que se destacaram no combate, conhecido por “Fogo da Serra do Doutor” foram os integralistas de Carnaúba dos Dantas, os irmãos Lúcio, Felinto (este ficou famoso, décadas depois, como compositor de hinos sacros e dobrados), Manoel Lúcio e Joel) e os fogueteiros que fabricaram as bombas caseiras lançadas nos veículos do Exército que transportavam os militares que se destinavam a cidade de Caicó com o fito de implantar o poder revolucionário do Partido Comunista e da Aliança Nacional Libertadora. Dinarte Mariz, que não pisou na serra, foi para Campina Grande buscar armas e munições. Depois da emboscada feita pelos policiais militares e os integralistas, Dinarte apareceu por lá, em direção à Natal.
Quem primeiro abordou esse assunto foi o falecido escritor João Maria Furtado (Vertentes, p. 139, Livraria Olímpica Editora Ltda, Rio, 1976), ao transcrever parte de depoimento prestado por José Bezerra de Araújo, político UDN, ligado a Dinarte Mariz, sobre os acontecimentos na Serra do Doutor e Currais Novos. Dr. José Bezerra de Araújo disse a João Maria Furtado que após a derrota dos comunistas, “elementos do Partido Popular tiraram da cadeia de Currais Novos presos de justiça que lá se achavam e e os que eram adversários políticos foram sumariamente fuzilados, depois de conduzidos a lugar ermo, fora da cidade”. O Partido Popular era liderado por José Augusto Bezerra de Medeiros e Rafael Fernandes Gurjão, este o governador destituído pelos comunistas em 23 de novembro de 1935.
Mas agora, mais de 20 anos depois que publiquei reportagens sobre “O Comunismo e as lutas políticas do RN na década de 30”, em O POTI, um pesquisador de Currais Novos, Volney Liberato, após ler uma matéria minha sobre o ex-marinheiro Jaime de Souza Bastos, 88 anos, que mora em Igapó, Natal, disse que as informações publicadas conferem com algumas informações que ele tem. “Os mais antigos comentam, sem ódio e sem paixões, que quando retiraram os presos da antiga cadeia da rua do Rosário (hoje Vivaldo Pereira), pelos integrantes do Partido Popular, quem era adversário, mesmo sem ser comunista, foram dali retirados e executados sumariamente em local ermo do município, sendo depois seus corpos jogados na Serra da Dorna. Existe também outra versão que foi dada pelo soldado reformado João Rodrigues, hoje (em 2006) com 92 anos de idade, de que, logo após os acontecimentos da Serra do Doutor, poderosos da cidade se dirigiram até a cadeia, onde lá mandaram soltar todos os presos, ordenando que fossem embora, que fugissem. Muitos deles ganharam o caminho de Frei Martinho/PB, mas antes de chegarem Rio da Boa Vista, foram emboscados por cabras contratados por esses poderosos, e sumariamente executados. Dois deles ainda chegaram com vida à cidade, mas um deles finou-se na calçada do cemitério de Santana, sob as esporas de um desses poderosos, enquanto o outro era jogado por cima da parede, da calçada para o interior do cemitério, pelos cabras contratados, vindo a falecer da queda.
O pai de um desses que assim foi executado terminou por ir embora de Currais Novos, pois começou a sofrer discriminação e reserva por parte do “coronelato” local. O pai do outro, se não me engano, enlouqueceu, terminando seus dias em Natal/RN. Como os fatos históricos, principalmente os que se referem aos acontecimentos de 1935, principalmente aqui em Currais Novos, ainda não são muito velados, pois os nomes dessas duas vítimas do sistema repressor do PP, não nos foi fornecido, nem os nomes dos seus pais, pois os mais velhos ainda temem em declinar nomes, como se ainda estivéssemos em plena ditadura do estado novo ou na redentora de 64”, assegurou o pesquisador Volney Liberato.

Luiz Gonzaga Cortez Gomes é jornalista e pesquisador.
Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

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