O capitão José da Penha


Durante a República Velha, o Rio Grande do Norte foi governado pela oligarquia Albuquerque Maranhão. Em 1913, estourou em todo país, uma campanha denominada de "Salvação Nacional", movimento que pretendia acabar com todas as oligarquias estaduais e eliminar o poderio dos coronéis do interior, sustentáculos do sistema dominante. Nesse contexto, surge a figura do Capitão José da Penha Alves de Souza conduzindo a cruzada oposicionista.
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Logo que chegou a Natal, José da Penha cumpriu a promessa de visitar Macaíba, onde morava seu sobrinho Vicente Paulo de Souza e terra natal dos chefes oligarcas Alberto Maranhão, Fabrício Gomes Maranhão, Augusto Severo e Augusto Tavares de Lyra. Macaíba era então considerada um verdadeiro feudo destas famílias.

Pontificavam como representantes locais do situacionismo; o coronel Manoel Maurício Freire, o major Antônio Delmiro Carneiro de Mesquita e o capitão Antônio Tavares, este último, irmão mais velho de Tavares de Lyra e o único que residia na cidade. Eram agentes oposicionistas; o major Antônio de Andrade Lima, o coronel Prudente Alecrim e o comerciante Alfrêdo Adolfo de Mesquita.

Segundo o jornal "Diário do Natal", pertencente a Elias Souto, cerca de seis mil pessoas acorreram ao cais de desembarque para ver e ouvir o intrépido "salvador". No dia anterior, surgiu um boato que iria haver tiroteio na chegada do líder oposicionista. Aconteceu o contrário exposto. Houve muita festa e passeatas acompanhadas pela banda de música do major Andrade, executando a marcha "vassourinha", jingle da campanha!!

Falando ao povo na praça "comendador Umbelino", José da Penha disse que Macaíba tinha sobrada razão para empregar, nesta luta, todas as suas energias, porque "foi precisamente aqui que manifestou-se mais violenta a situação oligárquica, arrancando, como abutre, o dinheiro do cidadão, pela extorsão e pelo abuso da força".

Alberto Maranhão, governador neste périodo, desembarcou em Macaíba discretamente na mesma hora em que se iniciava o comício. E, na casa do major Antônio Delmiro, ouviu atentamente o discurso do líder oposicionista. Os governistas entãoimprovisaram uma concentração e pediram a Alberto Maranhão que dirigisse uma palavra aos presentes. Com elegância de prumo, referindo-se ao capitão José da Penha, chamou-o de "ilustre patrício, militar correto e disciplinado, político ardoroso e espírito culto". Estava desfeita todos os desaforos pronunciados pelo capitão.

No dia seguinte, o comerciante Alfredo Adolfo de Mesquita, ofereceu um banquete no casarão da rua da Cruz, onde José da Penha ressaltou o seu compromisso com a liberdade e com sua causa.

Neste oceano de dominação oligárquica, as figuras oposicionistas do major Andrade, de Prudente Alecerim e Alfredo Adolfo de Mesquita, apesar de não terem logrado êxito na realização de seu projeto, contribuíram para mudar o rumo da história política estadual com a perseverança de seus atos. O eco de seus gritos de liberdade e a coragem demonstradas naquela recepção ao capitão José da Penha, falaram mais alto do que o bronze autoritário dos que sufocaram a liberdade.

Por fim, recolheu-se uma página de civismo de José da Penha e, ao mesmo tempo, de educação política do governador Alberto Maranhão.
 
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Graduado em História. Atualmente é mestrando em Educação pela UFRN e cursa Direito. É sócio fundador do Instituto Norte-Rio-grandense de Genealogia, membro do Instituto Pró-Memória de Macaíba, do Centro Norte-Rio-grandense do Rio de Janeiro e da Academia Macaibense de Letras, onde ocupa a cadeira nº 04, cujo patrono é Augusto Tavares de Lyra.

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