Canoas de Extremoz seriam os artefatos náuticos mais antigos do Brasil.

Consideradas relíquias arqueológicas as  canoas indígenas do período pré-colonial e colonial do Brasil, foram retiradas há cerca de dois anos do fundo da lagoa de Extremoz, na Região Metropolitana de Natal, mas ficaram ao relento à entrada da Fundação de Cultura Aldeia Guajiru, naquela cidade. Ao ver os três lastros de madeira se deteriorando no gramado, os mais desavisados poderão não atentar – e mesmo questionar o cuidado - para importância histórica e cultural do aparato.  
Os pedaços compridos de madeira, que em quase nada lembram uma embarcação, podem contar a evolução socioeconômica e ambiental daquela região, além de ser fonte de pesquisa sobre tecnologias usadas na construção  de canoas. Estudos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) revelam que uma das embarcações é anterior ao descobrimento do Brasil. Com cerca de 700 anos,  a chamada “Extremoz 4” pode ser o artefato náutico mais antigo do país.
As demais, teriam pouco mais de 200 anos. Segundo o resumo da dissertação de mestrado sobre arqueologia marítima, disponível no site da UFPE, o pesquisador Hamilton Marcelo Morais Lins Júnior afirma que foram realizados “mergulhos na lagoa de Extremoz (RN) onde foram encontradas algumas canoas e datadas pelo C14, cujo artefato mais antigo, Extremoz 04 (700 ± 30 BP), serviu de protótipo como base para o estudo das remanescentes ainda existentes no litoral pernambucano”. 
A pesquisa pode “ter obtido a primeira datação de um artefato náutico anterior ao descobrimento do Brasil”, diz a dissertação “arqueologia marítima: a evolução da canoa monóxila em Pernambuco, Brasil (séc. XVI-XX)” . O método do carbono 14 é mundialmente conhecido, com certificação nos Estados Unidos, e neste caso serviu para precisar a datação de quatro embarcações retiradas da Lagoa de Extremoz, uma delas sob a tutela do Museu Câmara Cascudo. Os artefatos vieram à tona com a forte estiagem, em 2013, que baixou o nível das águas da lagoa.  As três canoas indígenas, a maior  com  mais de dois metros de comprimento, encontradas por um pescador foram posteriormente transportada pela Prefeitura para o local. Extremoz, segundo os registros históricos, já foi no século XVI uma aldeia de jesuítas - a Aldeia Guajiru - que vieram para catequizar os índios tupis e paiacus que habitavam a região.
O fotógrafo e pesquisador Lenilton Lima flagrou, à época, a retirada das embarcações e o transporte para um prédio público. “Estava fazendo um trabalho com o boi de reis na região, quando soube que tinham encontrado e estavam removendo peças indígenas da lagoa. Fui lá e registrei. E a expectativa era saber a idade e a quem pertenciam”, afirma.
Ao retornar ao local, o fotógrafo se surpreendeu com o estado em que encontrou o material. “Não sabia que estava tão deteriorado pela ação do tempo, jogado ao relento”, afirma. Ele contou que, além das embarcações que foram removidas, há relatos de pesquisadores da região de existir cerca de 12 canoas ainda submersas pelas águas. “Espera-se que, se houve outras na lagoa, que sejam tratadas com mais respeito. É uma parte importante da história e do resgate da memória da cidade, das civilizações indígenas e ”,

Convênio
O secretário adjunto de turismo de Extremoz, afirma que apesar de estar ao relento e sem qualquer estrutura de amparo, as canoas indígenas retiradas da Lagoa de Extremoz há cerca de dois anos estão “em condições de preservação”. Mas admite que há um projeto para construção de uma sala para abrigar os artefatos arqueológicos, ainda sem prazo para ser iniciada.
Um convênio entre a Prefeitura e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi firmado para estudos sobre a datação e identificação de demais dados sobre a construção, uso e a quem pertenciam as canoas. Além disso, a Prefeitura realiza um trabalho educativo sobre a importância arqueológica e histórica da cidade.

“Não é material para exposição, mas para ser fonte de estudo científico. Os arqueólogos que trabalharam ali sabem que está naquele local e, mesmo assim, foi possível fazer os trabalhos”, afirma o adjunto de Turismo. Para servir a exposição, ele explica que as peças precisariam passar por um processo de recomposição. “Todo um trabalho de recuperação ainda será feito”, antecipou o secretário.
A diretora da Fundação de Cultura Aldeia Guajiru, Lêda Medeiros, falando por telefone à imprensa, informou que a casa está apenas com a função de guardar o material e que o trabalho de preservação e pesquisa está sob cuidados da Prefeitura em parceria com Universidades.

Texto adaptado de reportagem original da Tribuna do Norte (http://tribunadonorte.com.br)
FOTOS: Lenilton Lima



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