Vulpiano Cavalcânti: Um brasileiro
| Luciano Capistrano – luciano.capistrano@natal.rn.gov.br | Historiador/SEMURB – Professor/Escola Estadual Myriam Coeli
Nascido em Fortaleza, no dia 15 de março de 1911, em março completou
102 anos do seu nascimento. Seu nome: Vulpiano Cavalcânti de raújo.Homem
de ideal socialista, formou-se em medicina no Rio de Janeiro, logo
volta ao eará, atua como médico na cidade de Redenção. Naquele município
começa sua atuação profissional, desde cedo dedicada ao atendimento de
todas e todos, sem discriminação, marca de um profissional humanista,
formado na base solidária. Naquela época, já militante do Partido
Comunista, enfrentou os velhos coronéis, denunciando a situação de
exploração vivida pelo povo cearense, fruto da desigualdade social, uma
sociedade marcada pela grande concentração de terras. O médico humanista
vivencia as agruras do homem do campo nordestino. Militante defensor de
um mundo mais justo, pautou sua vida profissional na luta intransigente
pelo direito de todos a uma saúde gratuita e de qualidade. Seus embates
políticos no Ceará, o fará procurar outros lugares. Encontra então, a
cidade de Mossoró, chega a cem terras Potiguares a convite do ex
prefeito Duarte Filho.
Na capital do oeste potiguar Vulpiano Cavalcânti participa com
Evaristo Nogueira, Joel Paulista, Antônio Tenório, Jonas Reginaldo
Fernandes, Manoel Torquato, Chico Guilherme, José Moreira e Lourival
Góis. Companheiros de ideais, atuam na organização do Partido Comunista,
mesmo na clandestinidade. Na terra de Santa Luzia sofreu sua primeira
prisão no Rio Grande do Norte. Preso, foi transferido para Natal em um
avião, durante toda a viagem sofreu diversas ameaças. Seu crime: atender
bem seus pacientes. Médico-cirurgião, foi responsável por diversos
casos bem-sucedidos registrados nos anais da medicina
norte-riograndense.
Meu caro leitor, falar de Dr. Vulpiano é fazer uma referência ao
médico, ao homem, ao militante social, aquele que não aceitou como
natural as injustiças praticadas contra as camadas sofridas do povo
brasileiro. Em Memória Viva, Dr. Vulpiano relata um dos atos mais
deploráveis praticados nas dependências de uma unidade militar. A Base
Aérea de Natal, símbolo de combate as forças nazifascistas, Natal
cidade Trampolim da Vitória, teve sua história manchada pela dor e o
sofrimento de um homem do bem. O Dr. Vulpiano Cavalcânti, em seu relato
ao jornalista Carlos Lyra, denuncia uma corja de covardes transvestidos
de oficiais da aeronáutica.
Vejamos alguns trechos:
“Despido, fui espancado por eles a socos, pontapés e cassetetes de
borracha. Tudo isso na presença do cel. Ferraz Koller, comandante da
base. Foi a prisão mais dolorosa, mais torturada que passei”.
“Depois desse introito, fui jogado numa cela de quatro palmos de
largura por sete palmos de altura, fechada a chapa de ferro [...] A
maior ventilação que recebia era deitado, porque embaixo tinha algum ar
nessa porta [...] Nessa prisão eu respirava, também, pelo teto, por um
pequeno buraco, que servia para o tenente Câmara urinar, acertando
sempre na minha face. Urina e fezes”.
É meu caro amigo leitor, estamos nos referindo a década de 1950,
volto a repetir, em uma unidade militar nascida do esforço de guerra
contra o autoritarismo. Natal conhecida por sua tradição na aviação
aérea, tem infelizmente, a marca da insensatez praticada em nome de um
poder que falava em liberdade do outro lado do Atlântico, enquanto do
lado de cá dos trópicos muitos eram torturados nos cárceres da Base
Aérea de Natal.
A sociedade Potiguar, a sociedade Brasileira, tem o direito à
verdade. Esperemos que saiam das trevas as violações dos Direitos
Humanos praticados por aqueles que deveriam defender as garantias
constitucionais dos cidadãos brasileiros.
Que a Comissão da Verdade resgate a história de Dr. Vulpiano: um brasileiro.
Fonte do Texto: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/vulpiano-cavalc-nti-um-brasileiro
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