O SURGIMENTO DAS JANGADAS NO LITORAL NORDESTINO

Como a jangada chegou ao Brasil? Ou se ela já estava aqui, seria como parte da cultura dos povos indígenas?

A jangada vem para o Brasil como parte da rica troca havida entre a Índia, a África, a China e o Japão, sobretudo nos primeiros dois séculos da colonização, portuguesa. Incorpora ainda técnicas indígenas de corte de madeiras e extração das fibras de cordoamentos. Vem com as pessoas envolvidas nesse tráfico de outras pessoas, de bens, de animais, de plantas, de saberes - e, claro, especialmente o saber dos pescadores do Oceano Índico e das costas do Moçambique, que usavam barcos artesanais semelhantes às jangadas brasileiras - mas não iguais.

A palavra "jangada" trai essa origem asiática: vem de "changadam", palavra malaiala (língua dravídica da costa do Malabar, no estado indiano de Kerala) e, mais anteriormente, do sânscrito. Muito antes de ser uma embarcação típica de qualquer zona do Brasil, o termo sempre correspondeu a uma embarcação rudimentar feita com troncos de madeira.

Parece, aos olhos de hoje, que as jangadas somente surgem no trecho da costa do Nordeste que vai do Rio Grande do Norte ao Piauí por curiosas razões históricas, pois poderíamos ter jangadeiros em todo o litoral do Brasil, desde o início da Colônia brasileira.

Isso se deveu, sobretudo, à sistemática eliminação de todas as formas de navegar que não fossem controladas pela Coroa portuguesa, em eficiente vigor desde o século XVII, com o início da exploração das Minas Gerais (centro-sul do Brasil), para evitar o contrabando do ouro. Essa faixa do litoral nordeste brasileiro era despovoada e imprópria para portos dos barcos transatlânticos à vela, pois é varrida pela poderosa corrente oceânica da Guiana, que dificultava terrivelmente a chegada de barcos vindos da Europa.

Os primeiros jangadeiros lançaram seus barcos ao mar em meio ao abandono desses séculos de solidão e isolamento, ainda que fossem parte das diversas levas migrantes que povoaram o interior nordestino desde meados do século XVII, trazendo e cultivando o gado cuja carne alimentava os trabalhadores da mineração.

Com sua admirável capacidade de navegar contra o vento, e de usar a força do vento para sobrepujar a corrente oceânica, a jangada encontrou nesse trecho do litoral brasileiro uma situação ideal, até a chegada dos barcos motorizados, que viabilizam os (até hoje curiosamente poucos) portos surgidos desde o século XIX.

O conhecimento da construção dessa família de embarcações artesanais está em extinção: embora ainda haja colônias de pescadores remanescentes das primeiras comunidades que ocuparam o litoral brasileiro (sobretudo no litoral do Estado do Ceará e do Rio Grande do Norte), praticamente não se constrói mais a jangada tradicional, com troncos de madeira de flutuação, as jangadas de troncos. As atuais jangadas são feitas em pranchas de madeira industrializada ou utilizando instrumentos de corte mecanizado - as jangadas de tábuas.

Na foto, podemos observar a embarcação em um cartão-postal de Fortaleza dos anos de 1970.
 

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