Nordeste Açucareiro
A sociedade da região açucareira dos
séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O dos
proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho
e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos
para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos
senhores de engenho. O outro grupo era formado pelos escravos,
numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. Entre esses
dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos
interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores,
mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que
prestavam serviços em troca de proteção e auxílio).
Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes.
A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se
concentrava nas mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta,
submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que
habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo,
em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes
distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos
ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas
terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a
vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização
familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico
convergia a vida econômica, social e política da época.
A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade
do açúcar. Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa.
Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Abaixo deles situavam-se
os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam, adquirida por
concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como
senhores de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e
outros bens, menos o engenho. Compartilhavam com eles as mesmas origens
sociais e as mesmas aspirações.
O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável
flexibilidade nas negociações da moagem da cana com os senhores de
engenho. Eram uma espécie de elite entre os agricultores, apesar de
haver entre eles um grupo que tinha condições e recursos bem mais
modestos.
Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores -, unidos pelo
interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional,
formaram o setor açucareiro. Os interesses comuns, porém, não
asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento. Os senhores de
engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam
não só cana - de - açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas
dos senhores de engenho seguiam o exemplo, tratando como criadas as
esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de plantadores
independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação
aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa situação provocou
a concentração da propriedade e a diminuição do número de agricultores.
Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente
escravos. Recorriam a alguma forma de arrendamento de terras dos
engenhos para plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus,
pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar
produzido. Esses homens tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O
senhor de engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo
cultivo da cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do açúcar,
muito mais lucrativa.
Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que
praticasse a agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde
dos lavradores como para um grande senhor de engenho, conforme explica o
historiador americano Stuart Schwartz.
No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação
brasileiro. Apesar da atividade mineradora do século XVIII e da
concorrência do açúcar produzido nas Antilhas, essa posição manteve-se
até o inicio do século XIX. Em todo esse tempo, segundo Schwartz, "houve
tanto bons quanto maus períodos e, embora o Brasil nunca recuperasse
sua posição relativa como fornecedor de açúcar no mercado internacional,
a indústria açucareira e a classe dos senhores de engenho permaneceram
dominantes em regiões como Bahia e Pernambuco."
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