TURISMO NO RIO GRANDE DO NORTE
NA TERRA DO “JÁ TEVE” E DO “JÁ
FOI”, O TURISMO OBTEVE UM GRANDE SUCESSO ECONÔMICO. MAS LOGO VEIO A
QUEDA. MUITOS ESPERAM QUE A COPA DO MUNDO DE 2014 AJUDE O TURISMO DO RN
A VOLTAR AO SEU PASSADO DE GLÓRIA. SERÁ QUE ISSO VAI ACONTECER?
O turismo no Rio Grande do Norte se
tornou uma das principais atividades econômicas do estado. Esta
atividade já possuiu um dos principais papeis no processo de
desenvolvimento do estado, ocupando o posto de segunda fonte de renda
estadual (Receita estimada de US$ 216.131.752 em 2002, segundo dados da
SETUR-RN) e de maior empregador da iniciativa própria.
Em apenas cinco anos o número de
visitantes que estiveram o Rio Grande do Norte praticamente dobrou –
saiu de 1.423.886 em 2002, para 2.096.322 em 2007. Além disso, os
atrativos se mostraram extremamente interessantes para os turistas.
Dados indicavam que 91% dos turistas entrevistados desejavam retornar
para uma nova visita.
De 5 voos internacionais em 2003, o RN passou a receber 23 voos
internacionais em 2005, sendo 5 regulares, operados pela TAP. Em 2002 o
turismo gerava 80 mil empregos diretos. Em 2005 a atividade foi
responsável por mais de 120 mil empregos diretos e 600 indiretos, em
todo o estado. E nesse mesmo ano, a participação do turismo na economia
potiguar excedeu o petróleo, o camarão, o melão e a castanha de caju,
juntos e fez crescer a atividade imobiliária no estado, que passou a se
voltar muito para o mercado internacional.
O Rio Grande do Norte passou a ser referência nacional em turismo
internacional, com a maior quantidade de voos charters, conforme dados
da própria EMBRATUR. Outra coisa importantíssima foi a implantação da
política de Interiorização do Turismo. Isso acarretou a criação em 2005
de dois importantes polos turísticos: o Polo Turístico Costa Branca e o
Polo Turístico do Seridó. Este último já roteirizado, em parceria com o
SEBRAE, e o primeiro com o projeto de roteirização sendo executado em
2006. O próprio Polo Turístico Costa das Dunas, do qual faz parte Natal,
Pipa e Touros, foi institucionalizado em 2005.
Mas o Rio Grande do Norte, que já foi o segundo destino turístico
mais procurado em 2006 no Nordeste, caiu para a quarta posição em 2010.
Com efeito, mesmo registrando rentabilidade, o turismo no Rio Grande
do Norte vem em queda vertiginosa, principalmente no critério da chegada
de visitantes estrangeiros. Se em 2010 foram 46 mil, o número está
aquém dos anos anteriores. Em 2007, foram 255 mil, contra 299 mil do ano
anterior e quase 350 mil em 2005.
Em termos de porcentagem entre 2006 e 2010, o turismo internacional
recuou 60,4% no Estado. Levantamento da OMT cita que o Rio Grande do
Norte recebeu 46 mil turistas estrangeiros em 2010 – ano mais recente da
pesquisa, enquanto aplicou R$ 30 milhões nesta área.
Em Pernambuco e Ceará, concorrentes diretos do Rio Grande do Norte, a
redução não ultrapassou 16%. De acordo com dados do Ministério do
Turismo, o Rio Grande do Norte recebeu 117,6 mil turistas estrangeiros
em 2006. O Ceará, um dos principais concorrentes dentro do Nordeste,
recebeu 108 mil.Um fluxo 8,1% menor que o do Rio Grande do Norte. Em
2010, a situação se inverteu. Enquanto o Rio Grande do Norte recebeu 46
mil turistas estrangeiros, para o Ceará seguiram 94,7 mil – mais que o
dobro.
Apesar de estados como o Ceará não terem tido o pico que o Rio Grande
do Norte teve recentemente, outras unidades da federação continuaram
investindo na promoção internacional, inclusive na Argentina e na
Europa, através de diversas parcerias.
Estudiosos e pesquisadores apontam que um destino turístico,por
alguma razão perde seu mercado, a reconquista é sempre mais difícil. O
ideal seria manter constantes ações promocionais, independente do
cenário macroeconômico. Com a queda dos recursos investidos na
divulgação dos atrativos turísticos, levando em consideração o cenário
de crise internacional, a tendência é criar um grande hiato até a
retomada do fluxo turístico nos mesmos patamares vivenciados
anteriormente.
Apesar do recuo, o Rio Grande do Norte ainda é o estado brasileiro
onde o turismo tem maior participação na economia formal. De acordo com
estudo realizado pelo IPEA, a participação é de 4,4% – a maior do
Brasil. O índice coloca o Rio Grande do Norte na frente de estados como
São Paulo e Rio de Janeiro, maiores portas de entrada de turistas
estrangeiros.
A Copa do Mundo da FIFA de 2014 no Brasil e a escolha de Natal como
uma das cidades sede deste evento mundial podem alterar esta situação.
Entre os efeitos positivos do mundial de seleções no turismo potiguar
está o de praticamente dobrar o fluxo de turistas internacionais durante
o evento.
A capital potiguar receberá quatro jogos da Copa do Mundo, que
acontecerão no novo estádio Arena das Dunas, com capacidade de receber
43 mil expectadores e com entrega prevista para dezembro de 2013.
Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas, encomendado pelo
Ministério do Turismo, apontam que cerca de 600 mil turistas virão ao
Brasil no mês da Copa do Mundo. Eles realizarão cerca de 2 milhões de
viagens na cidades sedes. No Rio Grande do Norte, esse segmento deverá
ter 84.979 visitas – um dos menores entre as 12 cidades-sede do Mundial,
mas representará um incremento de 82,4% no fluxo de estrangeiros na
capital potiguar.
Já os números do Estudo Programa SEBRAE 2014: Mapa de Oportunidades
para as Micro e Pequenas Empresas nas cidades-sede, encomendado pelo
SEBRAE Nacional à Fundação Getúlio Vargas (FGV), 22,7% das 356
oportunidades de negócios geradas pela Copa em Natal, grande parte se
destinará para o setor do comércio/serviços.
Especialistas apontam que na a copa de 2014 deixará três grandes
legados para as cidades sedes: 1) Visibilidade mundial – O Brasil está
na mídia mundial desde o final da Copa da África e permanecerá na mídia
até 2018; 2) Obras de mobilidade urbana e infraestrutura que serão
realizadas nas 12 cidades sedes; 3) Uma melhor qualificação e
capacitação da mão-de-obra.
Dentre as várias áreas relativas a comércio e serviços, o turismo,
quando associado a toda uma cadeia (cultura, artesanato, gastronomia),
tem posição de destaque. É o primeiro lugar no ranking, com mais de 30%
das oportunidades.
Dado o volume de estrangeiros que os estudos mostram que virão para
Natal em 2014, um aspecto extremamente importante aponta para a questão
da preparação das cidades-sede para receberem estes visitantes,
corrigindo suas deficiências de infraestrutura e transmitindo uma imagem
positiva. Estas melhor preparação garante o retorno dos turistas
estrangeiros após a Copa.
A questão da capacitação dos profissionais da área turística para o
período da Copa do Mundo de 2014, e após, está entre as prioridades dos
setores do governo federal que atuam na área do turismo.
Entre os resultados já obtidos, destaca-se o programa de capacitação
viabilizado através de parceria do Governo do Estado com o Ministério do
Turismo no valor de R$ 440 mil.
A primeira fase prevê capacitação de 900 pessoas, entre bombeiros e
policiais civis e militares. Na segunda fase o projeto deverá capacitar
400 taxistas e permissionários que trabalham na Grande Natal. Esta
capacitação consiste em aulas de inglês básico, novas tecnologias e
noções sobre a história do RN e seus principais pontos turísticos.
Outra questão relativa ao turismo potiguar e a Copa do Mundo de 2014 é sobre os novos hotéis na área da Via Costeira.
Projetada parcialmente durante o governo de Cortez Pereira, com base
numa ideia bem mais antiga, da época de Juvenal Lamartine, a Via
Costeira teve seu projeto final definido por Tarcísio Maia, foi iniciada
por Lavoisier Maia e concluída por José Agripino. O primeiro
empreendimento hoteleiro ali instalado foi o Natal Mar Hotel, em
dezembro de 1984.
Os atuais 28 mil leitos conseguem suprir a demanda de turistas que
visitam a cidade, porém o advento da Copa do Mundo de 2014 aponta a
necessidade de novas unidades hoteleiras. A última inauguração de hotel
na Via Costeira foi em 2006 com o hotel do grupo catalão SERHS.
Segundo empresários locais existe a necessidade de acelerar a
ampliação do número de leitos para a Copa do Mundo de 2014. Eles
acreditam que efetivando a conclusão dos 11 empreendimentos planejados
para a área e atualmente parados, Natal vai ganhar mais 7 mil leitos e
dessa forma, atingir a marca de 33 mil; exigência da FIFA para as
cidades-sede do evento. Estes novos leitos vão gerar cerca de 3.800
empregos indiretos, com a garantia de ter todas as obras concluídas em
até 30 meses, a tempo para atender a demanda da Copa de 2014.
Pesquisas realizadas pela Secretaria Estadual de Turismo calculam que
o consumo médio diário feito pelos visitantes (cerca de R$ 150)
multiplicado ainda pelo número médio de diárias (sete dias) projeta um
aporte de R$ 2,8 bilhões na economia potiguar e a arrecadação de
aproximadamente R$ 425 milhões em tributos.
Entretanto os investimentos na Via Costeira estão sujeitos a
instabilidades jurídicas em decorrência de questões ligadas a área de
preservação do meio ambiente.
A Via Costeira foi definida como sendo uma Área de Proteção
Permanente (APP) em um relatório técnico coordenado pela Advocacia Geral
da União (AGU) em 2010, onde a área não poderia receber novas
construções. É o que defendem IBAMA, Ministério Público Federal e
Estadual, além da Superintendência do Patrimônio da União (SPU/RN).
O IBAMA argumenta que as construções ajudam a degradar o meio
ambiente no local, visto que a Via Costeira fica numa região de Dunas e
as novas edificações poderiam gerar sérios problemas ambientais. Já o
Governo do Estado, prefeitura e entidades do setor turístico acreditam
que por ter sido projetada para atender o desenvolvimento do turismo, a
área pode sim receber novas construções.
O que o trade turístico espera é que o episódio envolvendo a paralisação da construção do hotel da BRA não aconteça novamente.
Esta obra teve início em 2005, mas no ano seguinte teve um dos
andares embargados por ter ultrapassado a altura máxima permitida pelo
pano Diretor à época (15 metros a partir do solo).
Em 2007, a Procuradoria da República enviou uma petição a Justiça
Federal, exigindo a demolição do pavimento irregular. No mesmo ano a BRA
recorreu. Em 2008, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região emitiu
liminar afirmando que o hotel não deveria ser derrubado. Apenas em 2012
um acordo começou a ser definido junto ao IBAMA, que se mostrava contra a
liberação da construção. Os proprietários do empreendimento prevêem que
no primeiro semestre de 2013 será reinício a obra, cuja conclusão está
prevista para 2015.
Em recente entrevista (Novo Jornal, 15/12/2012), o empresário
hoteleiro e ex-secretário estadual de turismo Ramzi Elali, têm a
esperança que o diálogo em torno do caso do hotel da BRA influenciasse
na análise das demais áreas não edificadas da Via Costeira. Para este
empresário já deveria existir uma regra clara para a utilização da área
em prol do mercado turístico e da própria população de Natal. Ramzi
comentou que o importante é que “se utilize do bom senso e a compreensão
para se recuperar a área, colocar ponto final e começar a desenvolver o
turismo no estado”.
Uma notícia alvissareira para o turismo potiguar está no convênio que
a EMBRATUR firmou convênio com o Governo do Rio Grande do Norte para
intensificar a promoção dos nossos atrativos turísticos nos Países
Baixos. A intenção é captar voos diretos entre Amsterdam e Natal.
Existe um voo direto semanal entre Amsterdam e Natal, em operação
desde 2003, comporta 180 passageiros, porém a frequência é dividida com
Fortaleza. Na atualidade a única rota aérea vinda do exterior,
utilizando Natal como destino é a que parte de Lisboa, sendo
operacionalizada pela empresa aérea portuguesa TAP.
A verba destinada pela EMBRATUR é de R$ 527 mil. As ações previstas
são viagens de familiarização dos operadores de turismo com a nossa
região, a vinda de jornalistas especializados desta área (as chamadas
“press trips”), a produção de material promocional, campanhas
publicitárias e pesquisas qualitativas.
A Holanda está entre os 20 primeiros países emissores de turistas
para o Brasil. No ano passado, 72.162 holandeses estiveram aqui, dos
quais 37% deles o lazer. Eles geralmente permanecem em torno de 19 dias e
cada turista holandês gasta, em média, 81 dólares por dia no Brasil.
Mas se por um lado ações são planejadas para melhorar o turismo no
Rio Grande do Norte, por outro existem problemas relacionados com a
cobrança do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços,
sobre o preço dos combustíveis de aviação. Este custo representa entre
40 a 45 % no preço final das passagens aéreas e nos últimos três anos o
aumento médio deste insumo foi quase de 60%.
No aeroporto de Guarulhos (SP), o mais movimentado do Brasil, as
companhias aéreas pagam R$ 2,65 pelo litro do querosene de aviação para
voos nacionais e R4 1,98 o litro para voos internacionais. Isso cria uma
situação inusitada; se um turista compara pela empresa área TAM uma
passagem de São Paulo para Recife, vai desembolsar R$ 1.470,70. Mas se o
mesmo turista desejar comprar pela mesma empresa uma passagem ligando
São Paulo a Buenos Aires (Argentina), vai pagar R$ 1.171,46.
Este turista terá então uma economia de R$ 299,24, adquirindo uma passagem aérea para o exterior. Desta maneira, será que voltaremos a ter aquele turismo tão ativo e pulsante, do qual participei como Guia de turismo?
FONTE: http://tokdehistoria.wordpress.com/2012/12/19/4693/