Joris Garsman e o assassinato de Jacob Rabbi (II)


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG

Câmara Cascudo em artigo no O livro das Velhas Figuras, volume 3, diz ter conhecido, pessoalmente,  Candido Freire de Alustau Navarro, filho do Professor Manoel Laurentino Freire de Alustau, neto de Antonio Freire de Amorim Navarro, bisneto de Manoel Pereira da Costa Guimarães, trineto do velho João Lostau de Navarro. Em outro artigo sobre Jacob Rabbi, nesse mesmo livro, escreveu que no massacre em Cunhaú, queimaram o engenho e mataram o sogro do Coronel Garstman, talvez gerente da propriedade, que tinha como  um dos sócios o próprio Garstman. Diferentemente de Hélio Galvão, Cascudo não pensou em Garstman como genro de João Lostau. Hélio escreveu que Beatriz Lostau Casa Maior era filha do velho Lostau e esposa de Joris Garstman.
Joan Nieuhof, no livro já citado anteriormente, dá conta da ordem de prisão para várias pessoas suspeitas de conivência na conspiração contra os holandeses, citando, da Capitania do Rio Grande, tão somente João Lostau de Navarro, no ano de 1645, sem destacar qualquer relação dele com Garstman.
Pierre Moreau, dando sequencia às informações sobre o assassinato de Jacob Rabbi, escreveu: logo que Janduí e todos os seus principais amigos souberam desta morte, solicitaram a entrega de Joris Garstman para que eles próprios o justiçassem, por ter matado um de seus chefes; o conhecimento do fato, caso Garstman fosse culpado, lhes pertencia, de acordo com o privilégio que lhes tinha sido outorgado pelos Estados Gerais e a Companhia das Índias, de somente eles serem juízes dos criminosos de sua nação. Jacob Rabbi não podia ser acusado de coisa alguma e jamais traíra o país. Quanto ao assassinato do sogro de Garstman, este é que dera o motivo, como todos sabiam bem; quanto aos seus roubos e furtos, se ele tinha tomado gado, era somente para viver, pois não era razoável que ele e sua gente morressem de fome quando lhes era recusado comida. Se tomara instrumentos de ferro, era para servir-se deles no campo, a serviço dos próprios holandeses, aos quais os tapuias jamais tinham pedido soldo, e pelos quais muitas vezes se tinham exposto. Quanto ao ouro e à prata, nada tinham a fazer deles e teriam mandado entregá-los se lhe tivessem falado nisso. Em todo caso, se Jacob Rabbi tivesse de ser castigado, devia-se ter seguido o costume dos holandeses; em vez disso tinham-no assassinado, quando poderiam facilmente mandar prendê-lo. Gostavam dele mais que cem outros; apesar disso agradava-lhes ser sempre amigos dos holandeses, mas faziam questão de obter Garstman para matá-lo.
Os senhores lhes responderam que Garstman era oficial superior e não tinham o poder de entregá-lo, nem mesmo condená-lo à morte soberanamente, a não ser por crime de Estado; do seu julgamento havia apelação para os Dezenove, sendo preciso ouvir Garstman antes de condená-lo; mas podiam ficar certos de que se faria boa justiça àqueles que tinham matado Jacob Rabbi, fato que lhes trouxera muito descontentamento. E, para mostrar-lhes que manteriam sua palavra, mandaram vir Garstman, que foi encarcerado em sua presença, e os senhores do Conselho disseram aos Políticos que desejavam participar do conhecimento dessa questão. Os delegados dos tapuias, no entanto, voltaram descontentes para os seus, por lhes ter sido recusado Garstman, e disseram, ao partir, que os holandeses se arrependeriam.
Segundo ainda Pierre Moreau, no seu relato, Garstman foi depois interrogado, negou ter matado ou mandado matar Jacob Rabbi, acusou dois soldados da sua companhia, que tinham sido os instrumentos; estes foram tão apertados que confessaram o crime, dizendo ter sido mandados por Jacques Boulan, seu alferes. Boulan foi igualmente preso, e confessou que cumprira ordem de Garstman, seu capitão e general; este, acareado, negou tudo redondamente e disse a Boulan que ele era um impostor. Os dois soldados, mediante a confissão de Boulan, que os tinha eximido de culpa, foram soltos; os outros dois continuaram presos. Enquanto os Juízes debatiam esta delicada questão esperando alguma prova certa de qual desses dois devia ser acreditado, Garstman dizia que um oficial poderia assim imputar ao seu general a autoria de seus crimes; Boulan, ao contrario, alegava que um general, abusando de sua autoridade, faria depender dele a vida e a morte de seu oficial, empregando-o em vingar o seu ódio sob algum pretexto especioso de guerra e quitando-se depois pela negativa; se tivesse recusado a cumprir ordem seria demitido e proclamado poltrão; de outro modo seria preciso introduzir tabeliões e testemunhas para lavrar as atas das ordens, mandados secretos e outros que se dão num exército. Afinal, foi descoberto que Garstman e Boulan se tinham mancomunado para mandar matar Jacob Rabbi, e tinham divido a presa. Confiscaram-se todos os seus bens e soldos e eles foram demitidos de seus cargos, banidos do Brasil e reenviados à Holanda como schelmes, isto é, como pessoas indignas.
O Sebo Vermelho, de Abimael Silva, publicou Um interprete dos Tapuios, de Alfredo Carvalho, que contém o inquérito sobre o assassinato de Jacob Rabbi.
Copiado de: http://genealogiadorn.blogspot.com/2011/07/joris-garsman-e-o-assassinato-de-jacob.html

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