Os Ganhos de Vida do RN nos Últimos 30 Anos: Causas, Desafios e Perspectivas
O IBGE
divulgou ontem as “Tábuas de Mortalidade por Sexo e Idade” do Brasil. Um
dos dados que mais chamou a atenção foi o fato do RN ter sido a unidade
da federação que mais teve ganhos na expectativa de vida ao nascer.
Em 1980 uma criança que nascia no
território potiguar tinha uma expectativa de vida de 58,2 anos e o
estado ocupava a 22ª colocação no ranking nacional. Após 30 anos, em
2010, a esperança de vida ao nascer no RN havia saltado para 74 anos,
com o estado ganhando praticamente 16 anos de vida a mais e passando a
ocupar a 9ª colocação no ranking brasileiro.
Para as mulheres os ganhos foram ainda maiores: 17 anos de vida e esperança de vida ao nascer em 2010 de 78 anos.
O que explica esse desempenho?
Em primeiro lugar a queda da mortalidade
infantil: entre 1980 e 2010 a mortalidade infantil no estado regrediu de
121,6 mortes de crianças até um ano de vida para cada grupo de 1.000
nascimentos para 20,6 mortes.
Como fatores determinantes da queda da mortalidade infantil, segundo o IBGE, podemos citar:
1 – melhorias nas condições sanitárias (maior acesso da população a água tratada, esgotamento sanitário e coleta de lixo);
2 – aumento da escolaridade feminina;
3 – aumento da renda da população;
4 – maior acesso da população aos serviços de saúde;
5 – aumento na oferta e qualidade no atendimento pré-natal;
6 – campanhas de vacinação;
7 – políticas de assistência à saúde básica da gestante;
8 – programas de incentivo ao aleitamento materno;
9 – programas de transferências de renda e suas condicionalidades.
Todos esses elementos contribuíram para a
queda da mortalidade infantil no estado. Todavia, esses fatores também
estiveram presentes em outros estados e não explicam, sozinhos, porque o
RN teve o maior ganho na esperança de vida ao nascer.
Passei a madrugada matutando nesse assunto e vasculhando os dados divulgados.
Achei uma informação que ajuda a explicar
esse melhor desempenho do estado: a menor intensidade, no RN, de mortes
de jovens por causas violentas (assassinatos, acidentes de trânsitos…).
Vejam o gráfico abaixo que apresenta, para
os estados do Nordeste, a intensidade com que as pessoas falecem,
segundo os grupos de idade. Observem que para todos os estados existe
uma forte elevação nos padrões de mortalidade quando os indivíduos
chegam à fase jovem. Essa elevação acomete sobretudo os jovens do sexo
masculino e é ocasionada por mortes violentas.
Notem bem que para o RN a intensidade das mortes de jovens é a menor entre os estados do Nordeste.
Essa informação fica mais clara quando
damos um zoom no gráfico e apresentamos essas taxas de intensidade
apenas para os grupos etários de 10 a 29 anos. Vemos claramente como a
mortalidade dos jovens é menos intensa no RN do que nos demais estados
da região.
Eis, portanto, o núcleo central da minha
tese sobre o melhor desempenho do estado ao longo desses 30 anos: assim
como os demais estados nordestinos o RN promoveu uma forte redução de
sua mortalidade infantil. Todavia, os demais estados tem uma mortalidade
de jovens, causadas sobretudo por violência, que acabam reduzindo a
expectativa de vida de suas crianças.
Não estou aqui negando o crescimento da
violência contra o jovem no RN. Estou querendo dizer que, relativamente,
ela ainda é mais baixa do que naqueles outros estados que registraram
as maiores quedas da mortalidade infantil. Estou também querendo
reforçar que avançar nos ganhos de vida nas próximas décadas passa por
investir também na redução da violência contra os jovens.
Penso que para continuarmos avançando
nesse indicador nós precisamos: 1) manter e ampliar as políticas
responsáveis pela redução da mortalidade infantil; 2) contermos o avanço
da violência contra os jovens; 3) ampliarmos os serviços de atenção
básica à saúde, com foco em prevenção e saúde coletiva/comunitária; 4)
melhorar o atendimento à população idosa, que será cada vez maior.
Pode parecer excesso de otimismo, mas não é. Estamos caminhando para um “admirável mundo novo”. Os
netos da minha geração serão jovens em um RN com expectativa de vida ao
nascer de mais de 80 anos e taxas de mortalidade infantil abaixo de 5
mortes por 1000 crianças nascidas vivas.
Só precisa que adotemos as políticas corretas.
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