Historiadores da UFRN questionam a beatificação dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu

Original em: http://jornalista.tripod.com/tudojunto/Pagina_martires.html
Em 1988 foram iniciados os estudos para o processo de beatificação dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu por D. Alair Vilar Fernandes de Melo, da Catedral Metropolitana. No ano seguinte, o monsenhor Francisco de Assis Pereira é designado o postulador da causa, para investigar a história, ouvir testemunhas e analisar documentos pertinentes ao processo de beatificação. O decreto de beatificação foi assinado pelo papa João Paulo II em dezembro de 1998, os Mártires de Cunhaú e Uruaçu finalmente tornaram-se beatos para a Igreja Católica, após um minucioso estudo de sua causa. Isso foi motivo para historiadores questionarem os verdadeiros interesses da Igreja em relação aos mártires. A professora Fátima Martins, do departamento de História da UFRN, diz que a Igreja se aproveitou de um episódio histórico esquecido, explorando-o pelo lado místico como também a fé incomensurável dos fiéis. O catolicismo deixou a questão histórica em segundo plano, modificando-a, construindo uma nova verdade que se enquadrasse nos seus interesses. Em contrapartida a tal opinião, a jornalista Auricéia Lima, editora do jornal católico "A verdade" e escritora do livro "Terra de Mártires" vê no massacre um ato bárbaro e acredita que as vítimas demonstraram fé e patriotismo ao não se deixarem dominar pelos holandeses. A chefe do departamento do curso de História da UFRN, Denise Matos Monteiro, questiona também a versão da Igreja Católica sobre o massacre, pois existem outras interpretações. Ela acredita que o catolicismo ao se aproveitar desses fatos, chega a manipular a história, pois impõe

a versão mais conveniente do seu papel de Igreja: a versão de que houve os Mártires. A professora Denise Matos pergunta ainda quem seriam as verdadeiras vítimas desse processo, se os indígenas pudessem dar os seus depoimentos. Sem falar numa terceira versão: a dos holandeses; sabe-se que os colonos portugueses também realizaram massacres. A editora do jornal católico "A verdade" reconhece que há um contexto político pela busca de poder e dominação, tanto por parte dos holandeses quanto por portugueses. O engenho de Cunhaú era um ponto estratégico para os holandeses, pois representava um núcleo econômico da capitania do RN, produzindo aproximadamente sete mil toneladas de açúcar e também era um centro fornecedor de carne e mandioca, além de farinha de milho para Pernambuco. As historiadoras ainda consideram que a beatificação dos Mártires não passa de uma estratégia da Igreja Católica na tentativa de atrair fiéis que estão sendo perdidos para outras religiões. Entretanto, Auricéia Lima toma posição contrária ao afirmar que essa é a grande luta da Igreja e do papa: que cada vez mais cristãos se tornem santos. O prêmio maior, segundo a jornalista, seria a santidade que a Igreja Católica reconheceria a um cristão por suas virtudes, sua fé e perseverança.

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