JUMENTOS : HISTÓRIA E ORIGEM
Por Leopoldo Costa no site:http://stravaganzastravaganza.blogspot.com/2011/04/jumentos-historia-e-origem.html
Os asininos são popularmente conhecidos como burro, asno, jumento e jegue.Dividem-se em dois troncos: o tronco europeu, Equus asinus europeus, provavelmente com origem na região Mediterrânea e o tronco africano, Equus asinus africanus, originário do norte da África, da bacia do Nilo ou na Abissínia (atual Etiópia).
Os registros mais antigos que se conhece sobre os jumentos são do sítio arqueológico de Maadi, próximo do Cairo, a capital do Egito, datados entre 3.800 e 4.000 anos antes de Cristo. O sítio Maadi é composto por um sítio principal relacionado com um cemitério (76 sepulturas), juntamente com um assentamento secundário relacionado com um segundo cemitério (450 sepulturas humanas e 14 animais).
Estudiosos admitem que a domesticação dos asininos foi realizada na região de Jamo (atual Iraque) em 7.000 anos a.C., com a finalidade de transportar objetos pesados, pois superavam os bovinos neste tipo de trabalho não necessitando de longo tempo para ruminar os alimentos, obedeciam facilmente ao comando do cabresto e aprendiam rapidamente os caminhos e a rotina do trabalho. Foi o quarto animal de criação a ser domesticado logo após os ovinos, os caprinos e os bovinos. No Egito antigo, da mesma forma que os camelos, os jumentos foram o mais importante veículo de transporte das pessoas que viviam nos desertos. Além de animais de carga, eram usados como produtores de leite, carne e peles. por causa desta versatilidade eles foram sendo conhecidos em diversas regiões, desde o vale do rio Nilo até no sudoeste da Ásia.
Em 1.800 a.C. o centro de criação e comércio de asininos transferiu-se para a Mesopotamia. A cidade de Damasco, hoje capital da Síria, tornou-se polo de convergência de caravanas de camelos e jumentos que dirigiam-se para o Egito.
O onagro (Equus hemionus onager) é uma espécie intermediária entre o asno e o cavalo, que vive em estado selvagem nos desertos da Síria até o Tibet. Alcança 2 metros de altura e pode pesar 300 kg. A pelagem pode ser baia ou dourada. Na Suméria foi domesticado e usado como animal de tiro e carga. Tem outros assemelhados ainda vivendo em estado selvagem que ganharam denominações locais como o ‘kulan’ (E.hemionus hemionus) na Mongólia, ‘kiang’ (E.hemionus kiang) no Tibet, ‘ghorkhar’ (E.hemionus khur) na India e Paquistão e o E.hemionus hemippus na Síria que está extinto.
Na Europa o aparecimento dos asininos ocorreu no quinto milênio antes de Cristo, levado pelos comerciantes gregos de vinhos que voltavam do Egito e Oriente Médio, primeiro na região mediterrânea, mais tarde expandindo-se por toda a região central de clima menos frio.
Pelas condições ecológicas existentes no continente europeu surgiram diferentes variedades de burro de acordo com os distintos propósitos dos criadores de cada região geográfica. Foram surgindo assim, algumas das principais raças atualmente existentes: a raça Catalã. a Cordovesa, a Andaluz e a Zamorano-Leonesa na Espanha, a raça de Miranda em Portugal, as raças Piemontesa, da Sardenha e da Sicilia na Itália e as raças Poitou e Gasconhesa na França.
O Poitou é um descendente dos animais levados pelos Romanos para esta região do oeste da França entre o rio Viena e o oceano Atlântico. A sua existência e importância para os habitantes foi registrada num relatório de um emissário real em 1717. Apresentam pelagem castanha escura, abundante e comprida e portanto chamados também de ‘lanoso’. Têm a cor branca no focinho e nos contornos dos olhos.
A raça de Miranda é composta de animais altos, que atingem até 1,20 m de altura. O burro de Miranda encontra-se ligado a incontáveis tradições locais e carrega uma importante herança cultural e por isso os portugueses têm feito um grande esforço para evitar a extinção da raça.
A raça Abissínia é encontrado em toda a Etiópia. São animais normalmente cinza-ardósia e algumas vezes da cor castanha. É bem parecida com a raça existente no Sudão.O jumento é bem considerado pelos cristão. Está registrado na Bíblia que Jesus Cristo, antes de sua crucifixação entrou triunfalmente em Jerusalém montado em um jumento.
Pelo evangelho de Lucas cap.19 vers. 30 e 31, está escrito: ‘Ide a essa aldeia (perto de Betfagé e Betânia), que está na fronteira; entrando nela, encontrareis um jumentinho atado, em que nunca montou pessoa alguma; desprendei-o e trazei-o. E se alguém vos perguntar porque o soltais, dir-lhe-eis: porque o Senhor tem necessidade dele’.
Na biografia de santo Antonio de Pádua (1195-1231) , consta uma passagem considerada como um milagre do santo, que foi um grande pregador e combatia a heresia dos Albigenses, que negavam a presença viva de Cristo na Eucaristia. Um líder Albigense na cidade de Rimini na Itália, de nome Bonvillo fez um desafio a santo Antonio sobre este dogma católico. Propôs que fosse deixado um jumento três dias sem comer, depois mostrasse um feixe de capim a ele na frente de um sacrário com uma hóstia, se o jumento prestasse reverência à hóstia, ele acreditaria no dogma. Isto foi feito em praça pública. Santo Antonio trazia um ostentório e se colocou no meio da praça e o jumento dobrou os dois joelhos e de cabeça baixa, não tocou no feixe de capim, até que o ostentório fosse retirado do ambiente. Retirado, o animal devorou o feixe de capim em um minuto.
Apuleio, escritor latino que viveu no século II da nossa era, na sua obra ‘Metamorfose’ forneceu detalhes da vida quotidiana dos Romanos de sua época. A personagem principal do livro se transforma num burro e experimenta uma série de aventuras.
Cristóvão Colombo na sua segunda viagem trouxe os primeiros asininos, (4 machos e 2 fêmeas), para Cuba e daí alguns descendentes foram levados para o México. Quase todas as minas de prata no tempo da colonização do México empregavam os jumentos para o transporte do minério.
George Washington (1732-1799), o herói da independência dos Estados Unidos, foi um dos principais criadores de jumentos da sua época. Era um entusiasta e colaborou no desenvolvimento da raça Mammoth. O interesse começou quando foi ele foi presenteado pelo marquês de Lafayette da França, com um jumento preto Maltês e algumas fêmeas da mesma raça. Estas fêmeas cruzaram com jumentos da raça Andaluz e deram origem à raça Mammoth.
No Brasil, os primeiros asininos chegaram a São Vicente em 1534, junto com uma partida de cavalos e éguas, na expedição de Martim Afonso de Souza (1490-1571). Em pouco tempo o rebanho foi multiplicado e povoou as redondezas. Do cruzamento entre o macho Equus caballus e a fêmea E. asinus ou africanus resulta no muar chamado ‘bardoto’, menor e pode apresentar algumas imperfeições. Entre a fêmea E. caballus e o macho E. asinus resulta na mula (ou mulo). Estes animais híbridos são normalmente estéreis devido a diferença na quantidade de cromossomos: o E.caballus têm 64, o E. asinus têm 62 e os híbridos têm 63. As mulas foram de grande importância no período do Ciclo do Ouro e da Mineração, quando eram usadas no transporte de cargas entre as minas e o litoral e vice-versa. Veja esta história no nosso artigo ‘O Tropeirismo’.
O jumento Pega, também chamado de jegue, é criado numa vasta região que começa no norte do estado de Minas Gerais e abrange todo o Nordeste. O nome foi tirado de uma braga de ferro usada para prender os pés dos escravos fugitivos, por que uma das primeiras marcas de fogo aplicadas aos animais tinha este formato.
O melhoramento da raça, obtido com o cruzamento de animais de raças Italiana e Egípcia, foi iniciado em 1810 pelo padre Manuel Maria Torquato de Almeida na fazenda do Curtume no município de Entre Rios de Minas (MG). O padre vendeu em 1847, dois machos e sete fêmeas para a fazenda Engenho Grande dos Cataguases de Eduardo José de Rezende, em Lagoa Dourada (MG), que continuou a obra de melhoramento com entusiasmo, ampliando bastante o seu rebanho. Seus filhos receberam cada um lote de jumentos Pega para continuar cuidando da raça.
Em 15 de agosto de 1947 foi fundada a ‘Associação Brasileira de Criadores de Jumento Pêga’ que passou a cuidar da pureza e desenvolvimento da raça. Hoje tem mais de 17.000 animais registrados. A estatura média de um Pega é de 135 cm para os machos e 125 cm para as fêmeas pesando o macho cerca de 350 kg e a fêmea cerca de 240 kg. A pelagem normal é o 'pelo-de-rato', podendo ser também rua ou rosada e tordilha. As cores ruça e branca são indesejáveis. O pescoço é longo e musculoso. O corpo delgado e elegante, com lombo comprido. Membros altos de ossatura forte e fina, com articulações
Na Argentina, Austrália e Nova Zelandia os jumentos estão sendo treinados para conviver com os rebanhos de ovinos e afugentar os lobos, raposas e cães selvagens que se aproximam. Deve-se ter apenas um animal por rebanho, pois o segredo é mantê-lo solitário.
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